domingo, 15 de abril de 2018

Remida - Parte 10


(Narração Lucas)
            - Não sei nem porque duvidei que você conseguiria. Você sempre ganha os desafios. – Disse Rafael, dando petelecos na foto que eu tinha acabado de entregar.
            - Você sabe como sou... – respondi – não perco uma.
Rafael era meu amigo fazia exatos dois anos. Nos conhecemos em uma boate, quando um grupo de meninas veteranas nos desafiou a roubar quatro garrafas de bebida do bar. Sendo dois moleques do primeiro ano, queríamos impressionar, mas fomos pegos e escoltados de maneira nada amigável até a saída. Amizade que começa no pior, segue até o melhor. Continuamos a nos desafiar só por diversão.
É claro que eu ganhava todos os desafios.
            - E agora? – Rafael apertada e relaxava os olhos, tentando ver melhor cada detalhe da foto. Roubei-a de sua mão com rapidez.
            - Agora eu vou jogar isso fora porque o desafio era só tirar a foto da menina, não espalhar por aí.
            - Ah para cara. – disse Rafael pegando a foto de volta. Ao mesmo tempo entraram alguns colegas da sala no banheiro. Rafael escondeu a frente da foto na blusa e diminuiu o volume da voz. – Você vai fazer o que agora?
            - Não sei. Acho que nunca mais vou falar com ela. É a maneira mais fácil né cara?
            - Não! Talvez você consiga mais algum material.
            - Achei que era só um desafio sobre tirar a foto de uma garota pelada, não fazer uma sessão de fotos. – Rafael andava estranho desde quando começou a andar com uns caras do terceiro ano do ano passado. Eles saíram da escola, não fizeram nada de interessante na vida. Só se encontram em uma praça aqui perto umas vezes na semana pra fumar alguma coisa. Rafael já me convidou pra ir algumas vezes, mas sempre achei esse negócio de droga uma burrice.
            - Foto de mulher pelada? Onde? – Gustavo já vinha se intrometendo na conversa, parece que respondi alto demais e ele falou mais alto ainda. Rafael nem se esforçou pra manter a foto escondida, foi logo mostrando.
            - UAU! Quem é essa joia rara? – Gustavo falou tão alto que chamou a atenção de todos os garotos do banheiro, que não demoraram muito pra se juntar atrás dos ombros dele pra ver a foto.
            - Ah essa menina tá no meu time. – Respondeu um garoto chamado Mateus. – É Marcela o nome dela. Que beleza...
Todos começaram a pegar a foto ao mesmo tempo. Alguns mandavam beijos, outros davam uns gritos, todos riam sem exceção. Tentei pegar a foto de volta, mas foi em vão.
            - Qual é, Lucas? Você já curtiu a garota, deixa as lembranças com a gente. – Respondeu alguém que eu nem sabia o nome.
            - Pessoal ela tá lá fora! – Alguém gritou.
Se ela entrasse e me visse com a foto, ia achar que eu estava me gabando pra aqueles otários. Soltei a foto e entrei em uma cabine. Não demorou muito pra eu ouvir mais gritos e gargalhadas, seguidos de vários assovios. Olhei pela fresta da porta e ela estava lá dentro segurando a foto. – Merda. Merda. Merda. Merda. – disse para mim mesmo. Ela saiu do banheiro, e mesmo assim as gargalhadas, assovios e frases de assédio não pararam.
Esperei o sinal bater para sair da cabine. Procurei a foto, mas ela tinha sumido. Já era certo que ia se espalhar pela escola, que ia dar um problema gigante pra garota e pra mim ainda mais.
-
Tudo normal no correr das outras aulas. Já tinha tirado foto com o celular da foto que eu tinha impresso e mandado no grupo da escola. Já tinham até falado o nome dela, qual sala estuda e alguém mandou o telefone no grupo. Por sorte ninguém mencionou meu nome. Acho que ser o fotógrafo não é tão importante quanto ser “a fotografada”.
Por mais que eu também quisesse me esconder dela, não vi mais a Marcela na escola. Passei rápido na frente da sala dela antes do sinal da saída tocar, mas nem sinal dela. Eu tentei me convencer que ela ficaria bem. “Eu não tenho nenhum compromisso com ela”, “isso acontece o tempo todo, ela vai sobreviver”. E por mais que todos os pensamentos fossem verdade, eu não conseguia calar esse negócio que ardia no meu peito.
Culpa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário