quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Remida - Parte 11


(Narração por Marcela)
Sr Joaquim ouviu cada palavra que saiu da minha boca. No fim de tudo, quando acabei de falar, notei que não contei apenas sobre Lucas e a foto. Contei sobre meus pais, sobre a infância na igreja, sobre como minha avó lutava pra me ver de volta com Deus e, a única coisa que ele fez foi me abraçar. Acariciou minha cabeça como se eu fosse a filha, e nessa hora a Dani já estava ali conosco ouvindo também.
            - Você não é a pior pessoa do mundo por ter feito isso, Marcela. Você erra, é humana.
            - Mas eu desobedeci a Deus, Seu Joaquim. Por isso tudo isso aconteceu e eu não sei o que fazer.
            - Espera. Você pensa que todo essa confusão da foto aconteceu porque Deus está triste com você? – Respondi que sim com a cabeça, e ele continuou – É aí que você se engana. O Pai está triste sim com você, mas Ele não fez isso. Essas coisas só aconteceram porque alguém muito mal intencionado queria te ver humilhada. Alguém que não gosta da própria vida e precisa ver outras pessoas sofrendo pra conseguir se sentir bem. Quando você descobrir quem é essa pessoa, não sinta raiva dela; sinta pena.
            - Descobrir? – eu tinha certeza que foi o Lucas quem tirou a foto, mas Sr Joaquim parecia não ter tanta certeza assim – eu estou certa de que foi o Lucas pra se gabar.
            - Você ouviu isso dele? – Perguntou.
            - Não. Mas o amigo dele disse que ele contou tudo.
            - Ele pode ter contato, mas não tem certeza se ele fotografou. Até que se tenha provas, não tem como saber quem foi de verdade. Tenha paciência. Uma hora você vai descobrir quem foi. – Concordei com a cabeça. A linha de raciocínio dele parecia justa.

            - Obrigada, Sr Joaquim – sorri e ele concordou com a cabeça – Obrigada por me ouvir me aconselhar.
            - Não foi nada, minha filha. E ah, sobre Deus... – Ainda me sentia amargurada com esse assunto – fale com Ele.
            - Como eu poderia? Você sabe o que eu fiz... Ele não vai querer me ouvir.
            - Ele quer sim. Fale com Ele.
            - Mas não sei fazer isso – Insisti. Não orava há anos e acho que nunca aprendi a orar. Deus era um avô no céu e eu conversava com Ele como conversava com amiguinhos na escola.
            - Não precisa ter toda a reverência que você sempre ouve. Não precisa de palavras bonitas. Deus vê seu coração, Marcela, e Ele sabe que você se arrepende do que fez. Ele quer te dar alívio da culpa, não te condenar. – Isso não parecia real ou possível pra mim.
            - Como pode, Sr Joaquim? Eu fiz tudo o que Deus me diz pra não fazer, e Ele ainda se interesse em aliviar minha culpa? Não parece com toda a noção da divindade Dele que eu sempre ouvi.
            - Sempre ouviu errado! Deus é justo, mas se tratasse a gente da forma como merecemos, não estaria aqui pra contar história. Vai falar com Ele, vai chamar Jesus pra conversar. Ele vai te ajudar, eu tenho certeza. Ele me ajuda todo dia.
Daniele ficou imóvel ouvindo tudo aquilo. Em momento nenhum o pai conseguiu falar assim com ela. Talvez porque ela nunca se abriu pra ele com sinceridade. Tinha medo da reação que ele teria quando descobrisse as coisas que ela gosta de fazer. Mas via Deus da mesma forma.
Eu apenas concordei com a cabeça. A pizza havia chegado, fomos na mesa para comer e prometi ao Sr Joaquim e conversaria com Deus no dia seguinte quando chegasse em casa. Não sei se eu realmente conseguiria fazer aquilo, mas sei que aquela mesma sensação forte que me disse pra não ir à festa, não ficar no quarto, agora me motivava a cumprir essa promessa.
O grande desafio, no momento, era o dia seguinte.

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