Fiquei muito sem graça quando
notei que Lucas também estava em encarando e, ainda por cima, sorrindo de
volta. Bom, de duas, uma: ou ria pela minha cara de idiota, ou porque me
achou bonita também. Ele acabou com o resto da bebida do copo que segurava, deu
um tapinha nas costas de um amigo desconhecido, e veio andando na minha
direção.
Eu não sabia o que fazer, o
que dizer, onde colocar as mãos. Tentei me controlar e parecer tranquila, como
quem não quer nada. Mas era o garoto que eu estava apaixonada platonicamente
por três anos estava vindo na minha direção! Não podia negar que meu corpo todo queria
gritar! Mas me controlei, não queria parecer uma maluca.
Quando ele chegou perto,
cumprimentou um rapaz que estava perto de mim, sentou do meu lado. Nesse
momento eu bebi rápido o que estava no meu copo, esqueci que era alcoólico e
desceu raspando na minha garganta. Respirei fundo, e ele notou o que eu havia
feito.
-Ei, cuidado com isso. Se beber muito rápido, em poucos
minutos não vai se lembrar nem de onde está! – Ele disse sorrindo, batendo o
cotovelo no meu braço. – Me chamo Lucas, e você?
Não podia ser real.
-Me chamo Marcela. – Era impossível encarar aqueles
olhos, então virei de frente pra ele, mas só olhava para ao redor. Estávamos
perto demais pra eu suportar meu nervosismo. Ele estendeu a mão.
-É um prazer te conhecer. Eu nunca te vi nas festas, e
olha que conheço quase todo mundo aqui... onde você se esconde, ein?
-Não sou muito de sair de casa – respondi, com um
sorrisinho nervoso – minha amiga me trouxe até aqui e, aliás – olhei ao meu
redor – parece que ela se perdeu.
Quando voltei a olhar para o
Lucas, ele me olhava dos pés à cabeça. Não era um olhar malicioso, ele só me
analisava. Talvez estivesse achando bonito, apesar de eu ter odiado as roupas
que a Dani me fez usar!
-Sozinha você não pode ficar. É perigoso uma garota tão
linda ficar sozinha em um lugar desse... vem, estou ali com uns amigos, você pode
ficar por lá até achar sua amiga.
Ele nem esperou eu responder,
levantou, segurou minha mão – e essa foi a hora que eu achei que tinha morrido
por dentro – e me guiou até os amigos. Me apresentou todo mundo: Fábio, a
namorada Aline, o Rafael, que a Dani queria muito ficar, Gabriel e João.
Eu disse “oi” para todos, e
assim que chegamos lá, Lucas tratou de colocar os braços em cima dos meus
ombros. Eu estranhei, mas parecia surreal como tudo estava acontecendo! O
pessoal me cumprimentou, os rapazes, menos Fábio, me olharam da cabeça aos pés,
e logo depois disso, o Lucas colocou a mão na minha cintura e trouxe para mais
perto. Será que queria me proteger dos amigos?
Eles conversavam sobre tantas
coisas ao mesmo tempo que eu nem conseguia me concentrar direito, Rafael,
Gabriel e João ficaram bêbados muito rápido, começaram a falar umas besteiras e
uns nomes estranhos. De repente, Gabriel tirou de dentro do bolso um saquinho
com um pó. Ok, eu posso ser caseira, mas sei o que isso significa. Comecei a
ficar nervosa, me sentir tensa, e aquela sensação de que eu não deveria estar
ali começou a ficar mais intensa.
Eles riam brincando com
aquele pacotinho, eu tentava forçar uma risada também, mas estava incomodada
demais pra conseguir ficar relaxada... Não sabia que Lucas fazia isso! Tudo
bem, ele é o cara mais lindo e popular da escola, mas parecia ser tranquilo,
esperto... se ele aceitasse aquilo, eu ficaria muito decepcionada.
Resolveram fazer logo as
carreiras para cheirar, e aí eu me desesperei. O lugar estava cheio de
seguranças, e se me vissem com aqueles rapazes, poderia me encrencar de
verdade! Lucas não havia dado sinal de que faria aquilo ou não, mas eu
precisava sair dali. Coloquei a mão na mão do Lucas na minha cintura a fim de
tirar de mim.
- Eu preciso achar minha amiga. Daqui a pouco o pai dela
vem buscar a gente, e eu preciso ter certeza de que ela não vai parecer bêbada.
– Lucas me segurou levemente pelo braço.
-Não vou deixar você ir sozinha... como é sua amiga?
-Ah, ela é ruiva com os cabelos vermelhos, está usando um vestido preto e é um pouco alta. Provavelmente está
sem sapatos. – Ele riu.
-Então vamos.
☆
Eu fiquei realmente preocupada
do Lucas ser o tipo de garoto que usa drogas; não consigo imaginar ele daquele
jeito, sendo idiota como os outros amigos... não me aguentei.
-Lucas? – Ele parou, me segurou pela cintura, mas não me
puxou. Fiquei surpresa, e com medo, mas ele olhava para os lados. Estava fazendo
aquilo pra me proteger dos outros rapazes.
-Sim? Achou sua amiga?
-Não... é que quero te perguntar uma coisa.
-Pode falar. – Me senti amedrontada, mas seria melhor
saber agora antes que eu me deixasse fazer alguma coisa da qual me
arrependesse.
-Você usa aquilo? – Ele pareceu confuso. – Sabe, seus
amigos, o que eles trouxeram pra festa... – Ele sorriu.
-Não, não uso. Eu quero ser jogador de futebol quando
crescer, e não quero ter problema com drogas... então não uso nada, só bebo
mesmo. – Fiquei mais tranquila. Sorri, peguei na mão dele e o puxei, para
continuarmos a procurar a Dani.
☆
Achamos a doida perto da
porta do banheiro. Ela estava muito bêbada, como eu já imaginava, sem calçados,
como já imaginava também. Estava sentada conversando com outra garota que me
pedia ajuda pelo olhar.
-Marcela! Você sumiu! – Ela gritava enquanto eu levantava
ela do chão; Lucas me ajudou. – E espera aí... você conseguiu ficar com o
Lucas! – Riu descontroladamente. – Eu sabia que você ia conseguir, menina!
Valeu a pena você ter vindo, ein? Precisa me escutar mais...
Eu não sabia onde colocar a
cara! Quando ela falou “sabia que você conseguiria”, o Lucas me olhou confuso,
e podia ver pela sua expressão de que ele queria saber mais sobre isso...
-Pare de falar besteiras! Eu preciso dar um jeito na sua
situação, seu pai não pode te ver assim... – Disse eu, para Dani, enquanto
colocava ela sentada em um pufe. Mas ela resolveu conversar com outra pessoa.
-E aí, Lucas? Me responde uma coisa... A Marcela beija
bem? Eu sempre quis saber o que os caras pensam do beijo dela, mas ela nunca
sai com ninguém. – Ele riu, e eu quis matar a Dani. Resolvi mudar o assunto.
-Dani, cadê seus sapatos? – Perguntei. Ela olhou ao redor
e deu de ombros... me sentia uma mãe. E o Lucas observava tudo.
-Me desculpa por isso – eu disse, a ele – ela está muito
bêbada, não sabe o que fala. Obrigada por me trazer aqui, não quero que seja
babá junto comigo.
-Tudo bem – ele me
olhou com carinho – cuide dela, e isso é pra você fazer, Dani. – ela respondeu
com uma reverência militar mal sucedida. Lucas olhou pra mim – Foi bom te
conhecer... te vejo por aí. E sumiu na multidão.
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