domingo, 17 de abril de 2016

Remida - Parte 2

Fiquei muito sem graça quando notei que Lucas também estava em encarando e, ainda por cima, sorrindo de volta. Bom, de duas, uma: ou ria pela minha cara de idiota, ou porque me achou bonita também. Ele acabou com o resto da bebida do copo que segurava, deu um tapinha nas costas de um amigo desconhecido, e veio andando na minha direção.
Eu não sabia o que fazer, o que dizer, onde colocar as mãos. Tentei me controlar e parecer tranquila, como quem não quer nada. Mas era o garoto que eu estava apaixonada platonicamente por três anos estava vindo na minha direção! Não podia negar que meu corpo todo queria gritar! Mas me controlei, não queria parecer uma maluca.
Quando ele chegou perto, cumprimentou um rapaz que estava perto de mim, sentou do meu lado. Nesse momento eu bebi rápido o que estava no meu copo, esqueci que era alcoólico e desceu raspando na minha garganta. Respirei fundo, e ele notou o que eu havia feito.
            -Ei, cuidado com isso. Se beber muito rápido, em poucos minutos não vai se lembrar nem de onde está! – Ele disse sorrindo, batendo o cotovelo no meu braço. – Me chamo Lucas, e você?
Não podia ser real.
            -Me chamo Marcela. – Era impossível encarar aqueles olhos, então virei de frente pra ele, mas só olhava para ao redor. Estávamos perto demais pra eu suportar meu nervosismo. Ele estendeu a mão.
            -É um prazer te conhecer. Eu nunca te vi nas festas, e olha que conheço quase todo mundo aqui... onde você se esconde, ein?
            -Não sou muito de sair de casa – respondi, com um sorrisinho nervoso – minha amiga me trouxe até aqui e, aliás – olhei ao meu redor – parece que ela se perdeu.
Quando voltei a olhar para o Lucas, ele me olhava dos pés à cabeça. Não era um olhar malicioso, ele só me analisava. Talvez estivesse achando bonito, apesar de eu ter odiado as roupas que a Dani me fez usar!
            -Sozinha você não pode ficar. É perigoso uma garota tão linda ficar sozinha em um lugar desse... vem, estou ali com uns amigos, você pode ficar por lá até achar sua amiga.
Ele nem esperou eu responder, levantou, segurou minha mão – e essa foi a hora que eu achei que tinha morrido por dentro – e me guiou até os amigos. Me apresentou todo mundo: Fábio, a namorada Aline, o Rafael, que a Dani queria muito ficar, Gabriel e João.
Eu disse “oi” para todos, e assim que chegamos lá, Lucas tratou de colocar os braços em cima dos meus ombros. Eu estranhei, mas parecia surreal como tudo estava acontecendo! O pessoal me cumprimentou, os rapazes, menos Fábio, me olharam da cabeça aos pés, e logo depois disso, o Lucas colocou a mão na minha cintura e trouxe para mais perto. Será que queria me proteger dos amigos?
Eles conversavam sobre tantas coisas ao mesmo tempo que eu nem conseguia me concentrar direito, Rafael, Gabriel e João ficaram bêbados muito rápido, começaram a falar umas besteiras e uns nomes estranhos. De repente, Gabriel tirou de dentro do bolso um saquinho com um pó. Ok, eu posso ser caseira, mas sei o que isso significa. Comecei a ficar nervosa, me sentir tensa, e aquela sensação de que eu não deveria estar ali começou a ficar mais intensa.
Eles riam brincando com aquele pacotinho, eu tentava forçar uma risada também, mas estava incomodada demais pra conseguir ficar relaxada... Não sabia que Lucas fazia isso! Tudo bem, ele é o cara mais lindo e popular da escola, mas parecia ser tranquilo, esperto... se ele aceitasse aquilo, eu ficaria muito decepcionada.
Resolveram fazer logo as carreiras para cheirar, e aí eu me desesperei. O lugar estava cheio de seguranças, e se me vissem com aqueles rapazes, poderia me encrencar de verdade! Lucas não havia dado sinal de que faria aquilo ou não, mas eu precisava sair dali. Coloquei a mão na mão do Lucas na minha cintura a fim de tirar de mim.
            - Eu preciso achar minha amiga. Daqui a pouco o pai dela vem buscar a gente, e eu preciso ter certeza de que ela não vai parecer bêbada. – Lucas me segurou levemente pelo braço.
            -Não vou deixar você ir sozinha... como é sua amiga?
            -Ah, ela é ruiva com os cabelos vermelhos, está usando um vestido preto e é um pouco alta. Provavelmente está sem sapatos. – Ele riu.
            -Então vamos.
Eu fiquei realmente preocupada do Lucas ser o tipo de garoto que usa drogas; não consigo imaginar ele daquele jeito, sendo idiota como os outros amigos... não me aguentei.
            -Lucas? – Ele parou, me segurou pela cintura, mas não me puxou. Fiquei surpresa, e com medo, mas ele olhava para os lados. Estava fazendo aquilo pra me proteger dos outros rapazes.
            -Sim? Achou sua amiga?
            -Não... é que quero te perguntar uma coisa.
            -Pode falar. – Me senti amedrontada, mas seria melhor saber agora antes que eu me deixasse fazer alguma coisa da qual me arrependesse.
            -Você usa aquilo? – Ele pareceu confuso. – Sabe, seus amigos, o que eles trouxeram pra festa... – Ele sorriu.
            -Não, não uso. Eu quero ser jogador de futebol quando crescer, e não quero ter problema com drogas... então não uso nada, só bebo mesmo. – Fiquei mais tranquila. Sorri, peguei na mão dele e o puxei, para continuarmos a procurar a Dani.
Achamos a doida perto da porta do banheiro. Ela estava muito bêbada, como eu já imaginava, sem calçados, como já imaginava também. Estava sentada conversando com outra garota que me pedia ajuda pelo olhar.
            -Marcela! Você sumiu! – Ela gritava enquanto eu levantava ela do chão; Lucas me ajudou. – E espera aí... você conseguiu ficar com o Lucas! – Riu descontroladamente. – Eu sabia que você ia conseguir, menina! Valeu a pena você ter vindo, ein? Precisa me escutar mais...
Eu não sabia onde colocar a cara! Quando ela falou “sabia que você conseguiria”, o Lucas me olhou confuso, e podia ver pela sua expressão de que ele queria saber mais sobre isso...
            -Pare de falar besteiras! Eu preciso dar um jeito na sua situação, seu pai não pode te ver assim... – Disse eu, para Dani, enquanto colocava ela sentada em um pufe. Mas ela resolveu conversar com outra pessoa.
            -E aí, Lucas? Me responde uma coisa... A Marcela beija bem? Eu sempre quis saber o que os caras pensam do beijo dela, mas ela nunca sai com ninguém. – Ele riu, e eu quis matar a Dani. Resolvi mudar o assunto.
            -Dani, cadê seus sapatos? – Perguntei. Ela olhou ao redor e deu de ombros... me sentia uma mãe. E o Lucas observava tudo.
            -Me desculpa por isso – eu disse, a ele – ela está muito bêbada, não sabe o que fala. Obrigada por me trazer aqui, não quero que seja babá junto comigo.
            -Tudo bem – ele me olhou com carinho – cuide dela, e isso é pra você fazer, Dani. – ela respondeu com uma reverência militar mal sucedida. Lucas olhou pra mim – Foi bom te conhecer... te vejo por aí. E sumiu na multidão.

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