segunda-feira, 9 de maio de 2016

Remida - Parte 5

Rabo de cavalo, calça leggin, tênis. Assim eu estava caminhando tranquilamente até a escola na terça de manhã, pensando em quais desculpas poderia usar para não jogar vôlei. Não queria jogar contra o Lucas, eu sou péssima em esportes! Provavelmente levaria tanta bolada na cara que desmaiaria ali mesmo. Só queria que ele me notasse, e ele me notou. Agora... como faz pra parar?
Já estava chegando na escola, e vi o Lucas no portão da frente conversando com os amigos. Eu sempre fiquei nervosa ao vê-lo, mas nos últimos dias parece que tudo multiplicou. Eu achava que ele estava começando a me olhar diferente... sempre me dava atenção, vinha falar comigo e me olhava quando podia...
Lucas não me viu dessa vez, encontrei a Dani antes.
     -Já sabe o que vai fazer? - Eu estava distraída.
     -O que?
     -Você veio o caminho todo pensando em como fugir do jogo de hoje, né? - Às vezes a forma como ela me conhece me assusta um pouco.
     -É... mas não consegui pensar em nada bom. E você?
     -O que!? Acha que eu não quero jogar? - Deu uma voltinha. - Tô é doida pra exibir isso tudo. – Eu tive que rir.
     -Bom... acho que eu vou precisar jogar também. Espero que eu não faça nada de idiota na frente do Lucas.
-
O jogo aconteceria logo na primeira aula. Nosso líder, Mateus, era um cara bem desengonçado, mas até que era legal. Antes de tudo, chamou todo o time pra explicar as jogadas, os toques, até a forma de rodar pela quadra. Me disse calmamente o que eu faria em cada lugar. Depois de toda a paciência do Mateus, eu estava mais calma e confiante. Talvez isso até desse certo.
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Quando o jogo começou, fiquei direto no meio da quadra. O Lucas foi sacar, e acho que de propósito a bola veio direto na minha direção. Consegui levantar, a bola passou pela nossa quadra e logo voltou pra quadra do 3ºB. Um ponto. Eu fiquei surpresa por ter conseguido levantar a bola sem gritar, chorar ou me machucar. Olhei pra Dani e ela me fez um jóinha. Olhei para o Lucas e ele me parabenizou com um sorriso e uma piscadinha. 
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Fim de jogo. Ninguém morreu, eu principalmente. No máximo estava um pouco suada. Ah, e ganhamos! Mateus ficou bem feliz, confesso que eu também. Estava acostumada a fazer parte do time que sempre perde.
     -Parabéns. - Lucas chegou de repente por trás de mim, enquanto saíamos para beber água e o professor organizava o próximo jogo.
     -Obrigada. Foi um bom jogo. 
     -Você jogou muito bem lá, observei você o tempo todo.
     -Por isso perdeu tantas bolas? - Eu disse, rindo.
     -Não sei... talvez você me encante demais e isso tire minha atenção. - Socorro. Não sei como reagir! Só sorri e continuei andando. - Ficou vermelha por causa do esforço físico ou pelo o que eu falei?
     -Acho que vou te deixar na dúvida. - Ele sorriu.
     -Viu? Acho que vão dar uma festa hoje em algum lugar. 
     -Em plena terça-feira?
     -É... algum maluco quer comemorar essa folga de 1 semana nas aulas por causa do interclasse... É open bar, o cara vai bancar todas as bebidas! Ninguém perde bebida grátis. Pretende ir?
Alguém o gritou naquele momento, parecia que ele precisava voltar para a quadra pra jogar. Ele parou, e antes de voltar, olhou pra mim, abaixou a cabeça com os olhos bem fixos nos meus e mordeu os lábios.
     -Seria muito bom se você fosse.
-
     -Você definitivamente precisa de roupas novas! - Disse Dani, revirando meu guarda-roupas, pela segunda vez em menos de uma semana.
     -Para de reclamar e me ajuda a achar alguma coisa legal!
     -É apenas impossível! Suas roupas "legais" as pessoas usam pra dormir! - Precisava concordar. Olhei melhor, vi uma saia preta e uma blusinha um pouco social.
     -Acho que vou com isso mesmo. Arrumo um jeito de parecer legal e... você me empresta um sapato? - Dani bufou.
     -Tenho escolha?
Assim que descemos do táxi, Dani me parou de frente e desabotoou três botões da minha camisa. 
     -O que você está fazendo, sua maluca?
     -Calma, garota! Lucas vai gostar disso... Só vai mostrar um pouquinho daquilo que nós duas sabemos que ele quer.
Eu soltei um sorrisinho meio forçado, mas não era o que eu queria. Tive uma sensação estranha quando ela disse isso. Um impulso dentro de mim gigante que queria só correr dali, mas minha cabeça dizia pra ficar. Era a minha chance de finalmente ter o Lucas pra mim, não importa o lugar, eu só queria ele.
Quando entramos na casa, a festa já havia começado. Tudo muito igual à balada, só que um espaço menor e vários vasos de porcelana que eu não daria mais de 15 minutos de existência com os garotos bêbados por perto. Dani já chegou cumprimentando as pessoas, já pegou um copo de bebida e conseguiu um pra mim. Eu olhava em volta e não encontrava o Lucas, até que senti uma mão na minha cintura.
     -Oi, linda! - Ele me olhou dos pés à cabeça, dando uma atenção especial pro lugar onde a Dani desabotoou. - Você tá incrível!
     -Obrigada. - Era normal suar frio? Não, né? Tomei um gole da bebida. O Rafael, amigo maluco do Lucas chegou, cumprimentou a mim e à Dani, e tive a impressão de que ela conseguiria o que queria essa noite. Lucas continuou. - O que acharam dos jogos de hoje?
     -Achei bom. Achei a ideia do professor muito boa também. Muito bom tentar incluir mais atividades e...
     -A melhor parte foram as roupas das garotas! - Rafael me cortou. Não posso acreditar que o Lucas seja amigo de um babaca como ele; e não posso acreditar que minha melhor amiga queira ficar com um babaca como ele. Mas Lucas notou, se incomodou também. Apertou minha cintura e falou no meu ouvido. 
     -Aqui tá muito barulho... não quer ir em um lugar mais privado pra gente poder conversar melhor?
     -Claro. - Ele segurou minha mão e começamos a subir as escadas, sempre desviando dos casais que insistem em se pegar nos degraus. Sério, pessoal? É confortável assim?
Lucas me levou à um dos quartos que, por mais inacreditável que seja, estava vazio. Claro que eu não era boba, sabia quais eram as intenções dele. Mas eu não me daria assim tão facilmente. Poderíamos nos beijar, mas nada além disso. 
Ele fechou a porta, se voltou a mim e me puxou pela cintura.
     -Você ficou linda com essa saia. - Eu coloquei meus braços ao redor do seu pescoço.
     -Gostou?
     -Claro. - Ele me puxou mais perto e já conseguia sentir seu hálito. Estava ansiosa por aquilo! Por anos eu sonhei em estar no lugar onde eu estava agora: dentro dos braços do Lucas. 
A música tocava lá em baixo. Lucas então me puxou mais perto e colocou sua cabeça por cima do meu ombro. Nossos corpos estavam colados e ele começou a conduzir uma dança. A música era muito rápida e estávamos totalmente fora do ritmo. Mas isso não importava. O que realmente importava era o ali e o agora.
Ele afastou meu cabelo e começou a beijar meu pescoço. Eu só pude fechar os olhos e curtir aquele momento. Subiu beijando meu pescoço até minha boca, e eu vi estrelas. Um beijo longo e doce começou a acontecer, ele tirou a mão da minha cintura e pôs na minha nuca, o que deixava tudo muito melhor.
Lucas então parou, colocou a mão na minha bochecha por cima do cabelo, olhou pra mim e sorriu.
     -Pensei nesse beijo desde a festa que nos conhecemos. Como seria bom beijar você, mal podia esperar.
     -Eu alcancei as suas expectativas? - Perguntei.
     -Ah... - Ele me puxou de volta - Com certeza! - E voltou a me beijar.
O beijo seguia bom, doce, apaixonado, lento... o beijo perfeito. Conseguia sentir a mão dele correndo pelas minhas costas enquanto ele nos fazia pressionar um contra o outro, numa tentativa de nos aproximar mais do que já estávamos. Percebi, uma hora, que o beijo começou a ficar mais rápido, ele começava a ofegar. Notei então que a mão que antes segurava minha cintura, estava tentando erguer minha blusa. Comecei a tremer e parei o beijo imediatamente.
     -O que foi? - Ele perguntou.
     -Ah... nada. É só que... bom...
     -Está com medo de alguém entrar e ver a gente?
     -É. - Não era. Eu ainda era virgem, e não pensava muito em perder minha virgindade agora, mesmo que fosse com o Lucas. Desde pequena a minha família induzia a ideia de que sexo só é certo depois do casamento, porque era isso que a bíblia dizia. E mesmo que eu não fosse à igreja por muito tempo, isso ainda estava em mim. Mas ali, com o Lucas, eu estava em conflito. Queria que ele gostasse de mim, queria que ele me desejasse também, mas algo dentro de mim pedia que eu fosse embora naquele instante. Pedia forte, sentia uma presença ali. Mas era o Lucas... o cara que tem meu coração. 
Não conseguia dizer sim; mas não conseguia dizer não.
Ele foi até a porta e trancou. Tentou abrir e me provou que estava mesmo trancada. Depois, olhou pra mim de volta e ficou ali parado me olhando, o que pareceu uma eternidade enquanto eu conflitava à mim mesma sobre o que fazer.
Enquanto ele me olhava, tomei minha decisão. Eu apenas dei alguns passos até ele e puxei seu rosto com a mão na sua nuca e voltei a beijá-lo com muito desejo. Ele nos guiou pra cama, e naquele momento eu me entreguei pra ele.

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