sexta-feira, 22 de julho de 2016

Remida - Parte 6

Enquanto o Lucas procurava pela “proteção” a presença que incomodava meu coração começou a ficar mais forte. Algo dentro de mim dizia que ainda não era tarde demais, que eu poderia pedir para o Lucas me deixar ir embora, colocar minhas roupas de novo e fugir daquele quarto e daquela festa. Mas meu corpo insistia em ficar ali, eu queria ficar ali. O conflito começou a ficar mais intenso, mais forte, meus olhos se encheram de lágrimas, mas de jeito nenhum eu queria chorar na frente dele.
            - Achei! – Disse o Lucas jogando a calça no chão. Voltou-se para mim, engatinhou na cama por cima de mim até que pudesse me beijar de novo. Mas ele notou meus olhos e ficou preocupado. – O que foi?
Enxuguei a única lágrima que insistiu em cair, soltei um sorrisinho e respondi que não era nada. Ele voltou a me beijar, acabou de tirar tudo o que ainda impedia que nós fizéssemos aquilo e aí aconteceu.
Impossível colocar em palavras exatamente como me senti naquele momento. Era como se eu estivesse fora de mim, sentimentos com uma mistura maluca de prazer e culpa. O que ele fazia era bom, doeu a princípio, mesmo assim meu corpo gostava. Mas meu coração ardia, queimava dentro do meu peito uma junção de condenação com arrependimento. Eu não queria sentir isso, queria só o prazer, ficava me convencendo de que não há mal em fazer sexo antes de casar, é só sexo! Não estava fazendo mal pra ninguém, não estava machucando ninguém!
Antes que eu notasse, Lucas chegou ao clímax de tudo. Fiquei o tempo todo conflitando pensamentos e sentimentos. Ele me deu um beijo na testa antes de sair de cima de mim, se jogou do meu lado na cama e começou a rir.
            - O que foi? – Será que eu tinha feito algo errado ou algum barulho engraçado?
            -Não, minha linda. – Me deu um selinho e depois voltou para a posição que estava antes. – É só que foi incrível. – Olhou para mim de novo – Você é incrível!
Fiquei satisfeita. Apesar de todo o sentimento de culpa, Lucas havia gostado. Se ele não estava apaixonado por mim antes, agora tenho certeza que estava. Ele se levantou, jogou a camisinha fora e começou a se vestir. Parou do lado da cama depois de abotoar a calça, estendeu a mão para me puxar.
            -Vem. Se veste também! Ainda tem todo o resto da festa pra gente aproveitar.
-
Eu fui. Me vesti novamente, descemos as escadas tentando não tropeçar nos casais que se pegavam lá, de novo. Lucas mal tinha aparecido na festa e os amigos já foram se encontrar com ele pra falar besteiras. Ele então me deu um beijo na bochecha.
            -Preciso cuidar desses bêbados, princesa. Vai aproveitar a festa! – E deu um tapinha na minha bunda.
Lucas saiu com os amigos pela sala, rindo, conversando e brincando. Eu olhei ao redor, procurei pela Dani e confesso que não foi difícil de encontra-la uma vez que ela acenava pra mim tentando chamar minha atenção. Desci o último degrau e fui até ela.
            - E aí, doeu? – Ela riu. Como ela sabia?
            - Como você sabe que eu e o Lucas...
            - Ah, Marcela! A gente muda depois que perde a virgindade! – Ela falava um tanto alto, já estava meio bêbada.
            - Fica quieta, Daniele! O Lucas não sabe que eu era virgem e eu não quero que ele saiba. Nem que a escola toda saiba! Ok?
            - Tudo bem... – Ela me abraçou e perguntou no meu ouvido.
            - Mas foi bom? – Não consegui evitar e ri.
            - Foi.
-
Eram 1h30 da manhã, pelo menos 80% de todo mundo na festa já estava bêbado e desmaiado em algum canto. Os outros 20% eram casais que estavam se pegando e finalmente tinham saído da escada. Eu tomava conta da Dani, como sempre, estava com a cabeça no meu colo tirando um cochilo. Eu sabia que ela não poderia voltar assim para casa, o pai iria mata-la de soubesse metade do que ela fez essa noite. E se minha mãe soubesse metade do que eu fiz?
Ali, acariciando o cabelo da minha amiga bêbada, fui colocada de frente com a realidade de que precisava contar para a minha mãe o que eu fiz nessa noite. Como se começa uma conversa assim? Amanhã de manhã, enquanto estivermos tomando café da manhã, vou virar para ela e dizer “Bom dia, mãe. Pode assinar esse bilhete da escola avisando do passeio ao Museu semana que vem? Ah, a vizinha ligou e perguntou se você pode olhar as plantas quando ela viajar e eu também queria contar que transei ontem de noite. Mas olhe, não esqueça de deixar 30 reais para o Museu... talvez eu precise comprar alguma coisa pra comer”. Respirei fundo, realmente não queria pensar nisso agora.
Olhei ao redor, já havia um tempo que não via o Lucas. A última vez foi perto do barzinho e ele estava pedindo algo para beber. Me viu, me puxou, me deu um beijo e depois que pegou a bebida, saiu. Ele só queria aproveitar a festa, curtir com os amigos... Não podia impedir ele disso. Mas confesso que, naquele momento, fiquei desconfiada. Será que ele tinha ficado com mais alguém?
Antes que eu pudesse pensar mais sobre isso, o celular da Dani tocou. Peguei, era o pai dela.
            - Alô? Oi seu Joaquim. A Dani está no banheiro. Urrum, eu estava pedindo o táxi nesse exato momento. Não se preocupe – olhei para a minha amiga no meu colo – não precisa vim buscar a gente não. Vou pedir o táxi e ela dorme lá em casa. É, ela vai comigo pra escola amanhã. Sim, sei que é tarde, não vamos perder hora. Ela liga assim que chegar. Ok, tchauzinho.
Daniele me devia muitas desculpas.
-
Acordei na manhã da quarta, Dani roncava do meu lado. Eu não conseguia deixar de pensar em tudo o que aconteceu dentro daquele quarto, a forma como ele me olhava, a expressão no rosto dele de prazer e satisfação. Como me tratou com exclusividade todo o tempo, e mesmo na festa com os amigos, como deu atenção para mim. Não conseguia esquecer o cheiro do perfume dele, como era gostoso estar por perto. Estava ansiosa para encontrar com ele de novo na escola, poder beijar ele de novo!
Dani acordou, nos arrumamos, tomamos café e fomos até a escola. Eu não me preocupava mais sobre ter que parecer perfeita e linda de manhã; Lucas já me conhecia á fundo. Enquanto caminhávamos até o portão, consegui ver ele. Como sempre rodeado de amigos, e como sempre as meninas de olho dele. Ele me viu, eu sorri, dei um tchauzinho, mas ele continuou sério. Depois desviou o olhar e continuou a conversar com os amigos.

O que tinha acontecido? Será que ele não me reconheceu, ou talvez estivesse cansado. Ia perguntar para ele o que houve, mas antes que eu pudesse o sinal para início das aulas tocou, todos tínhamos que ir à quadra pra continuar com os jogos e ele sumiu no meio da multidão de alunos.

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