Tentei não ficar paranoica,
mas, enquanto a arquibancada vibrava pela cesta de 2 pontos do jogo de
basquete, eu não conseguia pensar em outra coisa. Quando o sinal tocou e todos
começaram a andar em direção à quadra, ele sequer se esforçou para vir falar
comigo. Ele andava há uns 6 metros na minha frente e eu via como ele agia
naturalmente perto dos amigos, mas, em nenhum momento ele olhou ao redor para
me procurar.
“Tira isso da cabeça, deve
ter uma explicação. Ele deve estar cansado, dormimos pouco depois da festa; ou
ele pode estar querendo curtir com os amigos dele”, mas minha intuição me dizia
que não era só isso, e eu me esforçava para ignorá-la.
Dani enlouquecia do meu lado
comentando sobre os shorts que os garotos estavam usando e como deixavam as
torneadas pernas à mostra. O jogo de basquete acabou e o professor organizava o
próximo.
- Futebol masculino – gritou o professor, tentando falar
mais alto que, em média, 700 alunos da escola – 3ºB contra 2ºA.
Ele iria jogar. É claro que
ele iria jogar futebol. O Lucas era conhecido por ter um ótimo ataque e, provou
nos anos anteriores, que isso não era apenas boato. Ele já havia jogado em um
clube da região, mas por algum motivo não continuou.
Os meninos se levantaram, cumprimentaram
os amigos com algo que me pareceu um “boa sorte aí, cara” e iam para perto do
professor ouvir as instruções e se alongar. Eu tentava não pensar muito sobre a
estranha expressão que ele deu ao me ver na hora da entrada e me focava a não
deixar essa loucura entrar na minha cabeça. Ele parecia bem. Ele estava bem. Nós estávamos bem.
O jogo começou bem, ninguém
havia se machucado – ainda, porque sempre acontece – e ele estava focado. O time dele conseguiu a bola e começaram a partir para o ataque, e ele correu para a lateral direita
do campo. Alguém passou a bola para ele, que chutou em cheio dentro do
gol. Acho que nunca vi minha escola vibrar tanto por uma coisa e, é claro,
todos torciam para o time dele. Depois do gol, Lucas olhou para a minha
direção, fez um coração com as mãos. Uma instantânea sensação de alívio tomou
conta de mim, que me levantei e comecei a vibrar junto.
☆
- Você viu aquilo? O Diego se machucou feio! – Comentou a
Dani enquanto saíamos da quadra para um intervalo.
- Eu vi! A menina que estava sentada do meu lado disse
que ele foi levado pelo próprio diretor para o hospital porque acha que foi
fratura interna na perna. – Dani fez uma careta de dor e tentou mudar de
assunto.
- E aquele coração, ein! – Me deu uma leve cotovelada, só
pra me irritar – Você ainda não me contou o que aconteceu ontem na festa.
- É claro – senti minhas bochechas começando a arder de
vergonha – se eu contasse, você nem ia se lembrar de tão bêbada que você ficou.
– Lá vem outra careta típica da Dani. – E aliás, você também não me contou o
que fez.
- Ah, o de sempre: bebi, beijei, bebi, beijei, bebi,
bebi, beijei e acho que dormi um pouco em algum lugar. – Nós duas rimos. Eu me
preocupava com a Dani. Em todas as festas que íamos, ela sempre terminava
bêbada. Frequentemente conto histórias das nossas saideiras porque ela não se
lembra nem da metade. – Mas não muda de assunto! O que aconteceu depois que
vocês subiram as escadas?
- Calma aí, curiosa. Vamos no banheiro que eu já conto.
Ir no banheiro com a melhor
amiga já virou um ritual. O banheiro estava vazio, o que era um milagre durante
o intervalo.
- Ok, agora conta. – Dani pressionou.
- Calma aí! Não vim no banheiro à toa. Aguenta um pouco
que eu já conto.
Enquanto eu estava dentro da
cabine, outras garotas entraram e começaram a comentar sobre o
jogo. Pelas vozes, julguei ser as meninas mais populares do colégio. Dani ficava calada, muito provavelmente porque odiava aquelas meninas.
Até que alguém falou uma coisa importante.
- Viram como o Lucas foi fenomenal no jogo?
- Claro, ele sempre é, não fico nem surpresa. – Era da Julia, a “líder” do grupo. Ela já namorou o Lucas no ano
passado, mas não durou muito tempo. – Mas aquela garota que ele ficou na festa,
aquilo foi surpresa.
- Surpresa não, piada! – A garota que tinha começado a
conversa, respondeu. Elas riram, e eu torcia pra Dani não começar uma briga lá
mesmo. E para minha surpresa, não ouvi a voz dela.
- Piada mesmo. Você consegue imaginar? Ela não faz nem um
pouco o tipo dele! Deve estar achando que ele está apaixonado, e que eles vão
namorar, noivar, casar, ter filhos e lutar a vida inteira para conseguir
comprar uma casa própria. – Riram de novo.
- É bem capaz que ela pense isso mesmo!
- Mas eu conheço aquele garoto – continuou a Júlia – depois
que ele conseguir o que quer, vai esquecer dela. Ele sempre fez isso e sempre
vai ser assim.
Lembrei de todas as meninas
que estiveram no meu lugar e uma tensão pairou sobre mim. Eu só ouvia o que
elas diziam. A primeira garota continuou a falar.
- Ah, você não viu ontem? Ele levou ela para o quarto.
- Sério? – Senti uma pontada de ciúmes na voz da Júlia e
confesso que aquilo me deixou feliz por um momento – então ele já conseguiu.
Pobre coitada.
- Coitada? Júlia, você está sorrindo – A outra garota
comentou. – O que aconteceu, hein? – Júlia riu por um momento e depois continuou.
- Ela não foi a única que ele levou ontem para o quarto.
De repente, eu já não tinha mais chão sob os meus pés.
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