sexta-feira, 9 de setembro de 2016

Uma Viagem Inesquecível - Parte 3

Geraldo era o marido de Sônia. Eles se conheceram quando, em uma noite chuvosa depois do curso de confeitaria que fazia com a minha avó, Sônia precisava de um guarda-chuva e ele ofereceu o seu. Parece mesmo história de cinema... minha avó jura ser verdade, apesar dela ter odiado Geraldo no começo do namoro deles.
Ele era alto, muito branco e bem barrigudo! Tinha um grosso bigode que escondia grande parte da sua boca. Ele tem uma Pet Shop. Lugar simples, mas bem-sucedido por atender os clientes e seus animais sempre com o mesmo carisma. Eu olhava para aquele homem me ajudando com a bagagem e falando o quanto eu tinha crescido, e pensava que para ele não existiam dias ruins.
Assim que chegamos no estacionamento do aeroporto, além do frio intenso que faz naquele estado, o que mais me chamou mais a atenção foi uma van colorida coberta de patas de cachorro. Torci praquele não ser o nosso transporte, mas não adiantou. Geraldo foi andando até lá e me chamando pelo nome de “Mariane”. Acontece sempre, estou acostumada.
                - E guria! Desculpa vim com a van do pet... Sônia ficou com o carro comum para poder ir no mercado, e fui obrigado a te buscar com a van. Ah, não temos bancos atrás, pode ir lá para frente e colocando o cinto... deixa que eu arrumo suas malas por aqui.
Assim que entrei na van, vi que não era de todo mau. Eu amo cães apesar de nunca ter tido um. Minha avó sempre me disse que eles são mais um filho, que precisam de atenção, de cuidados. Que custam tempo e dinheiro! E mesmo que eu prometesse que cuidaria dele como um filho, ela dizia que sabia que eu ia esquecer de dar ração e ela teria que cuidar.
Dentro da van cheirava à shampoo de cachorro. Quando notei isso, caiu a ficha da onde o cheiro do abraço do Geraldo vinha na memória. Ele cheirava à shampoo de cachorro! E sabem, isto não é ruim.
Olhei para uma foto que estava no vidro do carro, enquanto Geraldo se encaixava juntamente com a barriga no lado do motorista.
                - Essa é a sua família agora, Mariane. – “MARIANA”, pensei.
                - Quem é quem?
Ele começou a me mostrar um por um.
                - Essa aqui é minha esposa Sônia. Esse é o nosso filho do meio, o João. Ele é bem fechadão pras coisas, mas é bem estudioso e nos enche de orgulho com as suas notas. Esse baixinho é o Fábio, o caçula. É um anjo, quando quer. Esse sou eu, e aquele rapaz da ponta é meu filho mais velho, Pedro. Vocês brincavam muito quando eram pequenos e íamos pra São Paulo. Mas aí abri a Pet Shop e os encontros ficaram cada vez mais raros.
Apesar de ser uma linda família, de todos parecerem simpáticos, prestei uma atenção especial em Pedro. Aquele rapaz da foto já foi meu melhor amigo, e eu não conseguia lembrar nada sobre ele.
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Conforme fomos passando pela cidade, pude perceber o quão diferente era tudo de São Paulo. Os costumes, as pessoas, as roupas e até a forma como as casas eram construídas... tudo bem diferente. Mesmo me sentindo extremamente deslocada, no fundo eu tentava me convencer de que essa experiência poderia ser boa pra mim. Pensei mesmo como minha avó sugeriu... “um intercâmbio no mesmo país, poderei conhecer outra cultura!”
                -Mari? Posso te chamar assim?
Eu estava viajando nos meus pensamentos... havia um silêncio constrangedor dentro do carro.
                - Claro.
                - Eu não disse ainda, mas lamento pela sua avó. Ela não gostava de mim, tentou me separar de Sônia várias vezes, mas com o tempo aprendi a ser amigo dela. Eu sei que pode ser ruim pra ti ficar aqui... uma cidade diferente, pessoas que tu mal conhece, mas minha família vai te acolher e espero que tu se conforte logo.
                -Claro Sr Geraldo. Estou preocupada com a recuperação da minha avó, mas tenho fé que ela ficará bem. E eu terei esse tempo pra conhecer vocês, né? – Sorri.
Geraldo sorriu de volta, e eu tive que me esforçar um pouco para conseguir enxergar o sorriso debaixo do bigode.
                -Isso mesmo! Logo tu aprende a fazer churrasco e tomar chimarrão! Ah! Vou passar no pet shop pra ver como o Pedro tá, quer descer?
Olhei pra fora, vi as pessoas bem agasalhadas... olhei para a minha fina blusa de manga comprida e minha calça jeans com tênis e pensei mil vezes.

                - Posso ir outro dia.

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